100 Maneiras de Ljubomir Stanisic
Três anos de casados mereciam uma comemoração à altura das nossas bodas de trigo. A escolha foi difícil, pensámos no Arola, no Bica do Sapato, no JNCQUOI Ásia e ainda tivemos a ajuda da nossa amiga Patrícia que nos tentou um encontro especial no Plano, que vai ficar para uma próxima, pois fechava à terça-feira e não foi desta… e vimos ainda mais uns quantos, mas quanto mais víamos, mais íamos parar àquele que tinha sido a nossa primeira escolha…o 100 Maneiras restaurante. Tentámos a reserva online, havia vaga e nem pensámos duas vezes… 100 era demais!
Assim que chegamos à entrada temos uma pequena escadaria, onde me ia esbardalhando assim que uma menina simpática abriu a porta e eu fiquei vidrada pelo ambiente. O espaço está dividido em três salas – assim que entramos temos a Estufa com uma zona de um pequeno bar de cocktails e uma sala de espera, seguindo o espaço temos a sala da Mesa de Jantar com uma mesa corrida com lugar para 12 pessoas com vista para a cozinha e por último, onde nós jantámos, um espaço mais recatado, o Quarto dos Fundos.
“A História” é o nome do menu degustação que conta com 17 deliciosos momentos e foi esta história que nos foi contada ao longo de cerca de 3 horas. O 100 tem ainda dois outros menus: “O Conto”, um menu mais curto e o “Ecos do 100”, totalmente vegetariano.
O livro abre-se e a viagem começa… a mais bela História gastronómica tem início. Durante toda a nossa história fomos muito bem recebidos e acompanhados por uns empregados de mesa misteriosos e de tom de voz colocado, como se de atores se tratassem. Todo este cuidado adensava ainda mais a trama dando mais realce a cada pormenor do menu. Tinham o guião na ponta da língua, fizeram-nos sentir em casa e num ambiente descontraído… mas muito sofisticado.
A CAPA
“Bem-vindos à Bósnia” – “Pão Rosa, ajvar, kajmak, pasteta, stelja e ‘manteiga’ do mar”, entradas típicas da região, em loiça típica, feitos pela própria mãe do Chef, a D. Rosa. Sente-se amor no pão ainda quente e super fofo e a cada pedaço mergulhado em qualquer uma das pequenas histórias é uma viagem a um lugar ainda desconhecido, mas que nos aquece o coração. Ainda não tinha terminado o pão, já dizia que queria voltar a abrir aquele livro para voltar a provar aquela entrada… e ainda não tinha ideia do que vinha por aí.
PREFÁCIOS
La Bohème: tártaro de carabineiro, folha de shiso, queijo de ovelha e açafrão. A decoração à base de seixos não passa despercebida, mas aqui começas a ter percepção da dança das pedras que tens nesta experiência. Tens de enrolar o tártaro de carabineiro que vem escondido pela folha de shiso e sentir o fresco desta deliciosa nota introdutória.
O prefácio ainda não acabou e vieram três surpresas…
Feel the beet: beterraba com coentros
Orient Express: pickle de chalota, baba ganoush e papadum
Rock&Roll: camarão marreco com citrinos
Para mim o mais esperado era o Charuto de Sarajevo: espuma de batata, pão de chá fumado e “tabaco” duvan čvarci… não decepcionou.
INTRODUÇÃO
Salada mista: anchovas, trufa preta e parmesão. Uma salada para se comer à mão e que é difícil de comer, e que se cola aos dentes… mas é deliciosa e fresca.
1º CAPÍTULO
Flower Power: flor de courgette, samos de bacalhau, habanero.
Roda da sorte: encharéu, lírio ou charuteiro com algas, pêssego e ameixa.
Killer Tomatoes: tomates, manjericão e lardo.
2º CAPÍTULO
Magia Negra: kohlrabi, chimichurri de beldroegas com puré de recado negro e abacate.
Revolta do Chá: salmonete em “chá” de presunto.
O último prato deste capitulo é A última ceia: cabeça de vaca, rábano, tutano e pão somun, que é um excelente momento de partilha. O Chef pegou na receita do pai para refazer este prato e ser comido como se comem os tacos, feito por nós próprios, sem vergonhas e sem medos… num restaurante fino.
Depois da última ceia tive de ir experimentar mais uma novela – a WC. Até a WC nesta história é uma experiência BRUTAL. Enquanto estás na wc, ouves poesia em bósnio… uma cena estranha, mas hilariante.
POSFÁCIO
Foie pa’ tosse: foie gras, rebuçado Dr. Bayard, gelatina de vinho colheita tardia “Mais Vale Tarde do Que Nunca”, iogurte e ras el hanout. Esta pré-sobremesa foi o pior prato de todos para mim, já o B adorou.
CONCLUSÃO
Red carpet: sorbet de frutos vermelhos, ervas e flores
A fumo e fogo: linhaça, feno queimado e leite de amêndoa…delicioso
Pedra, papel ou tesoura: alho preto fermentado, chocolate branco e maracujá. Este prato foi uma surpresa e não tivemos explicação do nosso chefe de sala, não fossemos ficar assustados com o “alho preto fermentado”. Foi totalmente segredo até tentarmos decifrar os três principais ingredientes que compõem o prato… não chegámos lá.
Um brinde extra, estes três “bolinhos”.
O menu de degustação custa 110€ cada, sem bebidas incluídas. O conselho é ir com tempo para deliciar-se e viver esta história como toda a atenção e entrega total. Ninguém vive uma história a correr. Nesta compilação o Chef só escreve histórias com produtos frescos e da época, o que faz com que as histórias possam ser escritas com outras cheiros e sabores.
Aconselho a irem … 100 maneiras… eu gostava de repetir, mas dessa vez gostava de ter lá o Chef Ljubomir para felicitá-lo pessoalmente pelo excelente trabalho.
E se ainda tiveres tempo:
Patrícia Domingos
Minha querida consegues sempre deixar todos os que lêem os teus artigos ficam de água na boca!! Beijinhos e continua a partilhar as aventuras deliciosas😋
Raquel Gradim
Obrigada, Patrícia!! Estamos contigo… e prontos para mais uns deliciosos momentos à mesa… cada vez com mais gente a acompanhar!! 🙂